sábado, 6 de dezembro de 2008

as montadoras não investiram em inovação


Aproveitando que estou falando de crise e carros, vai uma matéria muito interessante que li há algum tempo atrás na Gazeta Mercantil.

Concordo plenamente com o autor, de que o governo americano não deve ajudar a GM, Chrysler e Ford. Por décadas, produziram carros de forma porca, pouco eficiente, e se deixaram atar pelos sindicatos. Produzem carros enormes que consomem muito combustível e demoraram para apresentar soluções. E agora querem bilhões dos contribuintes?


Leia o texto.


As montadoras não investiram em inovação

Em setembro passado, estava num quarto de hotel assistindo a CNBC cedo de manhã. O entrevistado era Bob Nardelli, presidente da Chrysler, e ele explicava por que o setor automotivo, na época, necessitava de US$ 25 bilhões em garantias de empréstimos.

Não era um pacote de resgate, ele disse, era uma forma de capacitar as empresas automotivas a reequipar suas fábricas para a inovação. Não me contive e gritei para a tela do televisor: "Nós temos de subsidiar Detroit para que possam inovar? Em que tipo de atividade vocês estão envolvidos que não seja a inovação? Se dermos para vocês outros US$ 25 bilhões, teremos de cuidar também da contabilidade?"

Como puderam essas empresas estar em tão más condições por tanto tempo? Claramente, a combinação de uma cultura de negócios anti-inovação, da falta de visão dos diretores e dos contratos de trabalho excessivamente generosos explica bastante. Isso conduziu a uma situação na qual a General Motors podia obter lucro só vendendo grandes carros esportivos-utilitários que consomem muita gasolina e caminhonetes.

Portanto, em vez de se concentrarem em gerar lucro inovando no uso do combustível, produtividade e design, a GM desperdiçou energia demais no lobby e na manobra para proteger seus beberrões de gasolina.
Disso fizeram parte acordos especiais com o Congresso que permitiram às montadoras de Detroit contarem a quilometragem dos beberrões de gasolina como sendo menos do que realmente eram - desde que produzissem carros com capacidade flex fuel para se abastecerem com o etanol. E incluiu ofertas especiais de US$ 1,99 o galão (3.79 litros) de gasolina por um ano para qualquer consumidor que comprasse um beberrão de gasolina.

E lobby sem fim para impedir que o Congresso elevasse os requisitos de quilometragem por litro de combustível. O resultado foi um setor sem cérebro. Nada ilustra melhor isso do que declarações como as de Bob Lutz, vice-chairman da GM. Ele tem sido citado como dizendo que os carros híbridos, como o Prius da Toyota, "Não fazem sentido econômico". E, em fevereiro, a D Magazine de Dallas o citou dizendo que o aquecimento global "É um monte de ...".

Essas são as pessoas que os contribuintes são solicitados a socorrer.

E por favor, poupe-me das lágrimas de jacaré com respeito aos custos do plano de saúde da GM. Certo, eles são ultrajantes. "Mas então por que a GM se recusou a levantar um dedo para apoiar o programa de saúde nacional quando era promovido por Hillary Clinton?", pergunta Dan Becker, eminente lobista ambiental.

Nem todas as montadoras estão à beira da morte. Leia o artigo publicado há duas semanas no autochannel.com: "de Alliston, Ontario, Canadá - A Honda do Canadá inaugurou oficialmente seu mais recente investimento no Canadá - uma fábrica moderna de motores de US$ 154 milhões.

A nova instalação vai produzir 200 mil motores de quatro cilindros, eficientes no uso de combustível, por ano para a produção do Civic em resposta à crescente demanda na América do Norte por veículos que oferecem excelente economia de combustível".

A culpa por essa distorção não deve ser atribuída só aos executivos, mas deve ser partilhada igualmente com toda a delegação de Michigan na Câmara dos Representantes e no Senado que todos os anos votavam conforme as instruções das montadoras e dos sindicatos de Detroit. Isso protegeu a General Motors, a Ford e a Chrysler de preocupações ambientais, quilometragens e do impacto pleno da concorrência global que teriam forçado Detroit a se adaptar muitos anos atrás.

Decerto, se e quando elas enterrarem Detroit, espero que todos os representantes e senadores passados e presentes de Michigan carreguem o caixão. Ninguém merece mais a "honra" de ser o carregador-chefe do que John Dingell, representante de Michigan e chairman da Comissão de Energia e Comércio da Câmara dos Representantes que é mais responsável por proteger Detroit até a morte do que qualquer outro legislador.

Certo, agora que coloquei tudo para fora, o que vamos fazer? Estou tão assustado quanto qualquer outra pessoa com o efeito dominó que o colapso da GM produziria sobre o setor e os trabalhadores. Mas se vamos usar o dinheiro dos contribuintes para resgatar Detroit, então isso deve ser feito conforme as linhas propostas na edição do Wall Street Journal de segunda-feira por Paul Ingrassia, ex-chefe de sucursal do jornal em Detroit.

"Em troca de qualquer ajuda governamental direta", ele escreveu, "o conselho e a diretoria (da GM) deve renunciar. Os acionistas devem perder suas ações remanescentes e sem valor. E um administrador jurídico indicado pelo governo - alguém pragmático e apolítico - deve ter amplos poderes para reestruturar a GM com um plano de negócios viável e devolvê-la para a operação privada o mais cedo possível. Isso implicará rasgar os contratos existentes com os sindicatos, revendedoras e fornecedoras, fechar algumas operações e vender outras e reduzir o tamanho da empresa... Entregar um cheque em branco para a GM - que a empresa e a United Auto Workers desejam urgentemente, e que Washington estará tentada a conceder - será um enorme equívoco".

Eu acrescentaria outras condições. Qualquer empresa automotiva que receber dinheiro público deve demonstrar um plano para transformar cada veículo de sua frota num genuíno híbrido-elétrico com capacidade flex fuel, de forma que toda a frota possa também ser abastecida com o etanol celulósico da próxima geração.

Por último, alguém deve chamar Steve Jobs, que não precisa ser subornado para promover a inovação, e perguntar para ele se gostaria de prestar um serviço para o país como diretor-executivo de uma empresa automotiva por um ano, eu aposto que não levaria mais tempo do que isso para ele apresentar o GM iCar.

kicker: "Nós temos de subsidiar Detroit para que possam inovar? Em que tipo de atividade estão, que não seja a inovação?"

The New York Times


Por Gazeta Mercantil

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