sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Pais, filhos e gays

texto pulbicado faz um tempinho na Folha de S. Paulo

A busca de super-homens é uma quimera longa e trágica na história humana

SERÁ POSSÍVEL escolher as preferências sexuais de um filho? Não, não falo de preferências por ruivas, loiras ou morenas.

A questão, levantada pela cibernética "Slate", vai mais fundo: será possível mexer na base neurobiológica de uma criatura e "reprogramá-la" para ela gostar do sexo oposto? Talvez. Conta a "Slate" que longe vão os tempos em que a homossexualidade era encarada como escolha pessoal ou produto do meio. A homossexualidade é um fato natural -como a cor dos olhos, a pigmentação da pele-, e estudos recentes apóiam a tese ao mostrarem diferenças visíveis no cérebro de homos e héteros.

Parece que os gays têm cérebros muito semelhantes aos das mulheres hétero. E parece que as lésbicas têm cérebros muito semelhantes aos dos homens hétero.Mas os estudos não ficam restritos a esse retrato. Os cientistas dão um passo além e sugerem que importantes influências hormonais, durante e pouco depois da gestação, determinam a constituição neurobiológica do indivíduo. E, se os hormônios desempenham papel principal, abre-se a porta prometida: "reorientar" os hormônios, "reorientar" a preferência sexual do bebê. A possibilidade recebe aplausos.

A Igreja Católica, confrontada com tal cenário, esquece a sua própria doutrina sobre os limites da manipulação médica e apóia decididamente a busca de uma "terapia" capaz de "curar" a "doença" homossexual.Mais impressionante é a opinião da maioria: questionada sobre a possibilidade de conhecer a orientação sexual do filho por meio de um teste pré-natal, a generalidade não hesitaria em recorrer ao aborto ou à "reprogramação" caso a sexualidade da criança apontasse para o lado "errado". No fundo, quem não salvaria um filho do preconceito social ou da "doença" homossexual?Fatalmente, a questão é desonesta.

Aceitar as premissas do debate lançado pela "Slate" -aceitar, no fundo, que, por meio da ciência, é possível reverter a orientação sexual de um ser humano- é aceitar, implicitamente, que a homossexualidade é uma doença. E, aceitando-o, permitir que a medicina a trate exatamente como trata qualquer doença.A realidade não legitima a fantasia. A síndrome de Down ou a espinha bífida, por exemplo, são doenças no sentido mais básico do termo: elas impedem que um ser humano tenha uma vida plena.

Podemos discutir se a medicina deve e pode "manipular" genética ou biologicamente uma vida humana para erradicar esses males. E podemos discutir se esses males legitimam a interrupção da gravidez.Mas essas discussões são distintas do problema inicial: reconhecer a Down ou a espinha bífida como fatores objetivamente incapacitantes de uma vida normal.A homossexualidade não é uma doença. Pode ser motivo de preconceito social, dificuldade relacional, neurose pessoal -mas não é impeditiva de um funcionamento pleno do indivíduo nem põe em risco a sua sobrevivência futura.

Nada disso significa, porém, que não exista uma base neurobiológica capaz de explicar a orientação sexual. É possível e até provável. Exatamente como é possível e provável que certas propensões da personalidade humana -para a depressão, para a liderança, para a criatividade- estejam já inscritas na nossa natureza.Mas isso não autoriza a medicina a procurar o paradigma do Super-Homem, dotado da dosagem certa de humor, capacidade de chefia, talento para a pintura e para o sapateado.

A busca de super-homens é uma quimera longa e trágica na história humana.Resta a questão final: e os pais? Confrontados com a possibilidade de "reprogramarem" a orientação sexual de um filho ou de descartarem-no via "aborto terapêutico", terão os pais o direito de pedir à medicina esse instrumento seletivo e subjetivo?Aceitar essa possibilidade é aceitar que, no futuro, os pais poderão determinar a vida futura dos filhos. Escolher a orientação sexual; o temperamento; a vocação intelectual; a excelência atlética ou estética.Não duvido que a maioria, confrontada com tal hipótese, reservasse para a descendência o cruzamento ideal entre Brad Pitt, Albert Einstein e Pelé.

Mas um tal gesto seria uma tripla violência: contra a medicina e a sua função especificamente curativa; contra o mistério e a diversidade da vida humana; mas também contra os próprios filhos, condenados a habitar vidas que não lhes pertenceriam, mas que foram desenhadas pela vaidade, soberba e tirania de seus progenitores.

JOÃO PEREIRA COUTINHO


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>>> Gentem, desculpe o texto "pronto", prometo que venho com novidades. Capítulos do mais novo seriado babado! Aguardemmm

>>> Arsênico, ai tenho medo de atacar e queimar o filme no trampo!

>>> FOXX, não sei se ele se mostra interessado. Ele puxa assunto, conversa... mas até aí posso ser só um "brother", né?

>>> alx hoera, nem sempre!

>>> du, pois é...e ele tem cara que tem "a pegada" hehehe

>>> ai sexy, eh fuego no rabo mesmo...faz um tempinho que não usam o meu corpinho hauhuahua

>>> Rafa, também penso assim, viu?

>>> Luan, mas os de suporte ganham pouco. Esse é o problema! Agora os analistas... hehehe

7 comentários:

JOÃO disse...

meu * q brilha que esse negócio vai dar certo, rsrs

Pera disse...

adoro o joao pereira coutinho...sempre coisas boas!
bayjoz

Hey Saturn disse...

Ótimo texto! Achei o máximo o autor ter destacado a posição da Igreja Católica diante disso; cadê aquela ladainha de "cultura de morte" e blá blá? Mais uma vez o Vaticano mostra o quanto é incoerente ao defender os seus "santos ideais"... Tsc, tsc.


Abs!

Arsênico disse...

É desgostoso saber uma coisa dessas... porque ao invés de procurarem problemas onde não existem... eles não vão procurar a cura pra AIDS... Cancer... e outras doenças que sim... comprometem a vida humana?


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Dih disse...

Ei, vc disse que me mandou um mail mas não recebi..... manda teu MSN!!!!!

du disse...

.é um assunto cuja discussão não tem fim. envolve ética, preconceitos, religião, crenças, moral....

.por mais que bons argumentos apareçam de todos os lados, é necessário reflexão de toda uma sociedade.

.pra falar a verdade. eu não tenho uma posição fechada sobre o assunto....

.abraço.

Rafa disse...

Agora onde está a ética? A genética não pode estar à serviço do preconceito. Bj